sábado, 2 de abril de 2016

QUANDO ME DESCOBRI NEGRA. RESENHANDO







Bianca Santana
ISBN: 978-85-8205-656-1
Ano: 2015
Páginas: 96
Editora: SESI-SP editora
Ilustrador: Mateu Velascos
Preço: R$ 20,00 a R$ 40,00






Perambulando pela Bienal recebo a seguinte dica de leitura: Quando me descobri negra, e inicialmente impactei-me com o título,  a simples apreciação de cada página me fez querê-lo por todo o sempre e imediatamente brotou em meu coração o desejo de que a mim tivesse sido apresentado na infância e na adolescência.
Bianca Santana, professora, jornalista e militante feminista nos oportuniza ouvirmos 29 relatos, inclusive dela, do que Neuza Santos Souza chama de Tornar-se negro. São palavras que nos fazem rever nosso próprio passado, nossas próprias memorias e a de outros atores que instantaneamente são tomadas como nossas também.
Nossa identidade negra é diariamente violentada e silenciadas, a nós a todo o momento é negado o direito de sermos quem realmente somos. Alguns relatos nos provocam a pensar, “em casa não sou negra, nem na escola ou com meus amigos brancos, mas olho para o espelho e vejo meu cabelo NEGRO, meus lábios NEGRO, meu nariz NEGRO, minha pele NEGRA, mas negra não sou?”, são conflitos que nos machucam, uma ferida que nunca cicatriza. E esse misto de provocações, de releituras das nossas próprias memórias nos causam tristeza, euforia, mas acima de tudo liberdade. A libertação de nos descobrirmos por completo, de deslevarmos a nós mesmos, isso não tem preço e nem tempo.
São relatos de situações de preconceito, discriminação e racismo, são agradecimentos por pequenas libertações, libertação da amara que nos renega o lugar de subalternos, que nos modelam a sermos outros de cabelos alisados e nariz afilado, que concedem a negra o papel sexualmente ativo, e que tem que provar constantemente ser a melhor, em tudo para conseguir se destacar “apesar da negritude”.

O livro está dividido em três partes: Do que vivi, do que ouvi e do que pari.

Bianca Santana, Autora.


Bianca Santana diz ter 30 anos, mas ser negra a apenas 10, e se descobriu negra quando se defrontou com sua própria história a de seus ancestrais. Os momentos de cada uma das narrativas contidas na segunda parte do livro também se alteram, não existe idade especifica ou lugar para tornar-se negro, mas o diálogo o confronto são possíveis e não tão fáceis caminhos a percorrer.



As ilustrações são um deleite a parte, Mateu Velasco consegue capturar a essência das palavras na pequena paleta de cores branca, preta e laranja.


Destaco ainda que esta leitura não é obrigatória apenas para nós negros/as, mas para toda as etnias e raças, pois provoca a pensar se um dia você já vivenciou ou reproduziu situações preconceituosas e racistas e permite assim, pensar para não mais fazê-las. 
Convido de corpo, cor e alma para que desfrute dessa leitura encantadora, que alerto, remexe o seu coração, faz parecer que alguns ciscos caíram acidentalmente em seus olhos, risco de roer unha e remoer dores, mas acima de tudo, tem uma grande chance de fazer você se orgulhar por chegar o dia em que finalmente se descobriu NEGRO/AS.

E para ficar ainda melhor a editora criou uma página especial na internet, onde você possa adquiri-lo e também compartilhar a sua própria história, te dando a chance de bordar sua memória na de outras pessoas.